A conversa foi se prolongando, e por fim perguntei a papai: - “Papai por que os pontinhos não aparecem mais pra mim? Por que sumiram? Justo quando eu estava prestes a descobri-los.” Aí ele me respondeu olhando bem no fundo dos meus olhinhos claros de criança:- Minha filha esses pontinhos pretos e coloridos que você tanto procura são as pessoas andando de um lado a outro pelas ruas, algumas com os seus deveres a seguir, outras se divertindo, e elas possuem cores e sons diferentes porque mesmo que nós possamos ser diferentes fisicamente, por dentro todos somos iguais, o que deve predominar é a igualdade e não a exclusão. Os seus pontinhos eles passam cada vez com menos freqüência porque estamos no inverno, e as pessoas nesta estação do ano tão fria se habituam a se retraírem em suas próprias casas para se aquecerem melhor. Por isso, por ser uma criancinha tão pequenina ainda para enxergares as coisas da vida, você as vê apenas como pontinhos coloridos e também pelo fato de observares da janela aqui em cima, quando cresceres sem dúvida verás muito mais longe. Então após uma longa conversa com papai, ele me desejou uma boa noite, me ajudando a subir na cama, cobriu-me com o meu lençol, beijou a minha testa e se foi. Nesta mesma noite, não consegui dormir muito bem, imaginando por várias vezes e interpretando tudo o que papai me dissera. E só de pensar como a minha imaginação vai longe, todo o meu mistério era somente pessoas e nada mais, movimentando-se em dias de inverno.
Embora que não tenha sido eu mesma que descobrira o meu mistério fiquei feliz porque foi uma das pessoas que considero mais inteligentes, então sem nem mesmo perceber adormeci num sonho cheio de descobertas, no dia seguinte acordei com uma luz muito forte sob os meus olhos, instintivamente me levantei fui até a janela, mal pude acreditar já podia ver os primeiros raios de sol infiltrando-se pela janela e penetrando por todo o meu quarto. Procurei no meu armário o vestido com flores pequeninas que ganhara no meu último aniversário de presente da minha avó, vesti-me depressa e desci a escada correndo quando mamãe me parou para que nos juntássemos para tomar o nosso café da manhã, papai como de costume ligara o rádio e ouvimos que o inverno acabara e que hoje iniciávamos a primavera, não dava pra disfarçar a ansiedade, tomei o meu café rapidamente e corri em direção à porta, e vi o jardim imenso com lindas flores, apanhei uma delas e fiquei observando-a por um bom tempo. Não me importava se papai acabasse com o meu passatempo dos pontinhos, o que importava mesmo é que a partir desse dia, começamos a observar os pontinhos coloridos, todos os dias no finalzinho da tarde, juntos pai e filha e nada me fez mais feliz do que brincar com o meu pai, sem dúvidas foi uma época significativa em minha vida que guardarei em minha memória essas doces lembranças com um sabor de infância sem igual, novos mistérios surgiam, a ansiedade de desvendá-los tomava conta de mim. E pude ver através do vidro da janela como os olhos de mamãe brilhavam porque ela sentia que eu estava feliz. E no dia de domingo todos nós, eu, mamãe, papai e os meus irmãos fizemos um lanche como há tempos não fizemos, com todos aqueles doces da padaria e muitas outras coisas, o sol começou a se pôr, a noite chegou e novamente papai estava lá comigo, e falei: - “Papai mesmo que agora eu saiba de toda a verdade dos nossos pontinhos, não me importo, pois quando eu crescer saberei muito mais do que hoje, do que se passou ontem e amanhã descobrirei muito mais.” E papai me disse que se sentia muito orgulhoso por mim, porque apesar de saber que eu era pequenina desse jeito ele tinha certeza, que eu me tornaria uma pessoa inteligente e acima de tudo saberia e entenderia os valores contidos na vida. Fez o seu costume e assim que fechou a porta, me veio algumas palavras a mente: “Não é a criança que vem ao mundo, mas o mundo que vem até a criança. Nascer é receber de presente o mundo inteiro.”
terça-feira, 27 de abril de 2010
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Em um dia de chuva ...- Parte II
Nesta mesma noite eu brinquei de várias profissões com a minha família onde estávamos todos reunidos no cantinho da sala e a vela a nos iluminar, brincamos de fazer desenhos e descobri, atuei como atriz, claro que sim, atriz mesmo daquelas que a gente vê algumas cenas quando juntávamos pra ir ver TV, através da janela do vizinho, quando a nossa dá defeito e papai demora muito pra consertar, enfim, eu diria que foi uma noite longa, acabei dormindo nem sem mesmo perceber, acordei quando ouvi ao longe a voz de mamãe a me chamar para o café da manhã, aquele aroma gostoso que me faz esquecer-se de tudo, Ops! Mas espera aí eu não posso esquecer-me de nada, quando levantei da minha cama vi que na noite anterior tinha feito muitas anotações e que parte delas eram pistas que poderiam me levar ao desfecho do mistério dos pontinhos da noite. Após o café fui para o meu quarto, porém antes disso passei pela janela mais uma vez para ver o tempo, e como era de se esperar nublado novamente, o que seria um bom final, dessa forma os pontinhos não me veriam, o que tornaria mais fácil a minha grande descoberta. No rádio onde papai se mantivera entretido com os meus irmãos por horas a fio, ouvi de relance que as previsões para este dia seriam as mesmas, os meteorologistas confirmavam as suspeitas, de que todos nós ainda teríamos longas noites frias e chuvosas, o que me fez suspirar e respirar de alívio. Preparei-me com mais cautela desta vez, pois tive um rápido pressentimento de que a cada dia que se passava estaria mais perto do fim e me tornaria bastante conhecida diante de todos, ou seja, todos os meus coleguinhas do bairro é claro, ou você chegou a pensar que veria o meu nome no noticiário da TV como eis a grande detetive que após vários meses, enfim, descobriu o mistério que todo o bairro nunca desvendara isso é sonhar muito, vamos voltar a nossa realidade, embora esse dia estivesse mais frio ainda do que o habitual, não deixei passar absolutamente nada, luzes incandescentes passavam de modo rápido, e em certos momentos chocavam-se diante daqueles pontinhos.
Mesmo com todo o esforço contido para solucionar esse enigma parece que nada adiantou justo nesse dia não consegui ver nenhum pontinho sequer, observei minuciosamente de um lado, até a rua seguinte e nada. Os dias prosseguiram e eu estava lá sempre na janela pra quem sabe talvez surgisse um pontinho e aí eu falaria finalmente: -“Cheque Mate!”; mas não aconteceu. Comecei a perder as esperanças e junto dela pode parecer até coincidência, gradativamente o frio tomava conta de cada espaço da casa e de mim, simultaneamente. Foi nesse exato momento que os meus pais demonstraram preocupação, pois a partir desse dia perdi o apetite até mesmo daqueles doces da padaria ao lado que me faziam grudar nos vidros, nada fez com que eu mudasse de ânimo, a minha rotina nunca foi tão fria assim. Meu pai por sua vez começou a prestar mais atenção em mim e em tudo o que eu faria de repente juntando os fatos como dois mais dois são quatro, ele entendeu o que estava se passando comigo e então certa noite enquanto eu estava perdida em meus próprios pensamentos, ele chegou até a mim, e iniciamos uma conversa de pai para filha, ele me contou histórias incríveis de quando tivera os seus primeiros aninhos de idade assim como eu agora e experimentara a sensação do seu primeiro banho de chuva, onde a chuva por sua vez o fizera tão feliz naquele instante que nem ele mesmo saberia o motivo, uma sensação indescritível...
Continua..
Mesmo com todo o esforço contido para solucionar esse enigma parece que nada adiantou justo nesse dia não consegui ver nenhum pontinho sequer, observei minuciosamente de um lado, até a rua seguinte e nada. Os dias prosseguiram e eu estava lá sempre na janela pra quem sabe talvez surgisse um pontinho e aí eu falaria finalmente: -“Cheque Mate!”; mas não aconteceu. Comecei a perder as esperanças e junto dela pode parecer até coincidência, gradativamente o frio tomava conta de cada espaço da casa e de mim, simultaneamente. Foi nesse exato momento que os meus pais demonstraram preocupação, pois a partir desse dia perdi o apetite até mesmo daqueles doces da padaria ao lado que me faziam grudar nos vidros, nada fez com que eu mudasse de ânimo, a minha rotina nunca foi tão fria assim. Meu pai por sua vez começou a prestar mais atenção em mim e em tudo o que eu faria de repente juntando os fatos como dois mais dois são quatro, ele entendeu o que estava se passando comigo e então certa noite enquanto eu estava perdida em meus próprios pensamentos, ele chegou até a mim, e iniciamos uma conversa de pai para filha, ele me contou histórias incríveis de quando tivera os seus primeiros aninhos de idade assim como eu agora e experimentara a sensação do seu primeiro banho de chuva, onde a chuva por sua vez o fizera tão feliz naquele instante que nem ele mesmo saberia o motivo, uma sensação indescritível...
Continua..
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Em um dia de chuva...

Um dia de chuva de repente se tornou um dia perfeito pois assim mais tranquilamente essa garotinha pode se expressar sem medo. Paro de repente em frente a janela e observo a chuva com suas milhares de gotículas de água a cair numa velocidade impressionante, observo também as pessoas lá fora na rua, algumas delas a recolher as suas coisas, seus instrumentos e fontes de renda porque com a chuva com certeza o custo do dia seguinte será um valor inferior ao dos dias de sol de verão. As demais pessoas da rua ficam apenas paradas ali a analisarem uma a uma, mantendo a conversa em dia como fazem inúmeras vezes, ou simplesmente pelo simples fato de não encontrarem nada de interessante de fato para fazerem, é nesse ponto que muitas vezes as pessoas se enganam, certo que comparado a um dia normal tem certas limitações, mas é em um dia de chuva que damos asas à nossa imaginação e modificamos em um dia inusitado. Da minha janela, Oh!, os meus pensamentos vão longe, vou atrás daquele passarinho escondido entre as folhas das árvores, daquela florzinha perdida no meio do jardim e milhares e milhares de outras coisas tão simples, tão pequenas.
Eu posso até não saber quanto tempo a chuva pode durar, mas prometo que mesmo assim vou torná-lo inesquecível como outro dia trivial da minha vida. A minha casa é enorme lá de cima no primeiro andar da mesma começo a olhar os pequenos pontinhos pretos e coloridos aí então começo a ficar mais curiosa, eles se movimentam numa velocidade tão rápida e outros lentamente como se não estivessem com pressa de se locomover, outros ainda explodem como jatos de água, enquanto isso o tempo continua fechado, com suas nuvens obscuras transbordando cores frias, assombrosas por sinal, contudo, esses pontinhos que tanto procuro vão se tornando raros até que chegam a um ponto que não os encontro mais, eles fogem do meu alcance.
Que pena porque me diverti tanto tentando compreendê-los, certa hora vi dois pontinhos de cores bem distintas um era castanho, marrom bem vivo, o outro uma cor parecida com o amarelo mais claro, estranho, mas tive a ligeira impressão de que eles estavam tentando se conectar um ao outro de um modo peculiar eu diria, de repente quando eu estava entusiasmada pra desvendar o mistério destes dois pontinhos que prenderam a minha atenção e o foco para eles, estes notaram a minha visão e sumiram no piscar de olhos, penso neles até hoje, os formatos eram dos mais variados sem falar também do som que emitiam muitos possuiam um som grave, outros suaves, tinham também alguns que eram quase imperceptíveis, inaudíveis. Mas o problema maior naquele momento era que dentro do ambiente em que me encontrava carecia de luz, a única fonte de luz que tinha ali eram algumas velas acesas, por isso fiquei um pouco aborrecida porque me atrapalhava na descoberta e investigação do meu novo mistério advindo do dia de chuva.
Todas as noites em que ouvia no rádio que iria chover de antemão já me preparava para um novo dia de investigação com a minha capa de cor escura, os meus óculos escuros, bem velhinhos, mas que davam todo o diferencial do meu uniforme de detetive, imaginem só eu, de detetive foi um sonho, assim que a escuridão tomou conta da rua lá estava eu de prontidão pra observar as ações dos meus suspeitos pontinhos com uma caneta e um caderno de escola bem surrado que eu ganhara de recordação de um coleguinha do bairro, mesmo não enxergando nada rabisquei algumas anotações importantes neste meu novo caso. Lia, relia, uma, duas, três vezes ou mais dependendo da gravidade.Mamãe, papai e os meus dois irmãos achavam que era uma perda de tempo minha, eles começavam a rir de mim, porém mamãe que era mais compreensiva me dizia que , segundo ela se eu me esforçasse o suficiente, estudando muito, traduzindo o que ela me disse eu poderia ingressar em uma carreira profissional que me traria sem dúvidas benefícios e um capital maior....
Continua....
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